(Imagem: Dirceu Aurélio)

Foi como “um intruso” que Leonardo Henrique de Almeida Alcântara, de 16 anos, começou a treinar na oficina de Taekwondo do programa Fica Vivo! do Centro de Prevenção à Criminalidade (CPC) Ribeiro de Abreu, em Belo Horizonte. A paixão pelo esporte coreano foi instantânea e, desde o início das aulas, foi sempre o jovem mais frequente e dedicado. Hoje, o atleta está na faixa vermelha ponta preta e no 10° lugar do ranking nacional na categoria Juvenil. Essa posição garantiu a Leonardo a oportunidade de participar do Grand Slam, que acontece em Vitória, no Espírito Santo, neste final de semana (7 e 8/2). A disputa será feita entre os melhores do ranking, e os dois primeiros lugares conquistam uma vaga na Confederação Brasileira de Taekwondo.

 

Leonardo começou a frequentar as aulas em 2015, mas a coragem para competir só veio em 2017. Nesses pouco mais de dois anos, já foram 28 medalhas conquistadas em campeonatos estaduais, regionais e nacionais. Um número que poderia ser maior, se não fossem as dificuldades financeiras que o impediram de participar de algumas competições. Sem patrocinador, o atleta conta com o apoio de toda da família: pai, mãe, irmã, padrasto, tios, todos ajudam como podem. E apesar das pedras no caminho, ele não quer desistir do sonho de um dia integrar a equipe nacional, seja como esportista, seja como treinador.

 

“Mesmo se eu não conseguir, vou continuar tentando. Pretendo fazer educação física, começar a dar aula, ser pelo menos um técnico da seleção. Um dia eu vou estar lá”, afirma, confiante. “Eu também me vejo como oficineiro. O esporte mudou tudo na minha vida. Junto com o Fica Vivo!, abriu muitas portas que eu nem sabia que existiam. Principalmente me tirou da rua, porque onde eu moro não tem muitas influências boas. O tempo que eu poderia estar na rua, seguindo caminhos errados, eu estou praticando Taekwondo”.

 

O jovem treina todos os dias da semana, sendo duas vezes no Fica Vivo! e os outros dias com Juliana Lima, uma ex-aluna da oficina que se tornou instrutora frequentando as aulas no Ribeiro de Abreu. A professora, inclusive, vai acompanhá-lo na competição.

 

Oficina de Taekwondo

 

Duas vezes por semana, a arte marcial coreana invade o Salão da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, no bairro Ribeiro de Abreu. Para participar é preciso apenas vestir roupas confortáveis e ter muita disposição. Durante duas horas e meia, os alunos se alongam, aquecem e partem para o combate. A média mensal de atendimentos da oficina é de 15 jovens por mês – em 2019, foram 166 atendidos ao longo do ano. A oficina é comandada pelo professor Diego Oliveira, nascido e criado na comunidade.

 

Diego, por sua vez, aprendeu o esporte em um projeto social, em 1999. Cinco anos depois, tornou-se instrutor e começou a dar aulas. Atualmente, é professor da rede municipal de ensino e, além do Fica Vivo!, também ensina Taekwondo para pessoas deficientes. Para ele, a mudança nos jovens que participam da oficina é perceptível de imediato. “Essa juventude de áreas vulneráveis não tem muita perspectiva de vida nem metas a longo prazo. Então, quando os jovens começam a frequentar as aulas, eles começam a estabelecer metas, como mudar de faixa, participar de um campeonato, se apresentar em eventos. Eles fazem planos para o futuro, e isso é importante para vida deles, para as escolhas e caminhos que eles seguem”.

 

Outras mudanças, de acordo com o oficineiro, são as noções de responsabilidade, solidariedade e respeito que a luta desenvolve nos jovens. Lauany Eduarda Amaral, de 14 anos, é uma aluna que nunca perde a oficina. Ela conta que a base do Taekwondo é a disciplina, e isso tem a ajudado na escola. “Hoje eu sou uma aluna melhor, quero continuar treinando, estudando e fazer uma faculdade de Medicina”.

 

Ver um aluno alcançando o que Leonardo conseguiu é motivo de gratidão para o professor. “Eu sempre digo para eles que antes de qualquer medalha que ganharem ou competição que participarem, o mais importante é optarem por um caminho do bem, com caráter; só isso já é vencer. Eu fico muito feliz com a conquista do Leonardo, porque também é uma realização minha, e, quando ele chega lá, eu estou chegando junto”, comemora Diego.

 

Fica Vivo! Ribeiro de Abreu

 

Além do Taekwondo, outras 15 oficinas são ofertadas pelo Fica Vivo! Ribeiro de Abreu: seis de futebol de campo, masculino e feminino; três de futsal; uma de funk; uma de percussão; uma de corte de cabelo; uma de composição de música e hip-hop; uma de basquete de rua e uma de jogos de rua.

 

As oficinas do programa Fica Vivo!, desenvolvido pela Subsecretaria de Prevenção à Criminalidade, da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), são uma estratégia da metodologia de proteção social para aproximação do público alvo. Elas são destinadas a adolescentes e jovens de 12 a 24 anos que moram em áreas vulneráveis de todo o Estado, territórios que historicamente possuem altos índices de homicídios.

 

Em 2019, a média de encontros para a realização de oficinas no Ribeiro de Abreu foi de 1.662, e um total de 3.707 jovens foram atendidos. O número acumulado de atendimentos realizados, somando as modalidades Projeto de Circulação, Projeto Local, Projeto Institucional e jovens que participam de mais de uma atividade, foi de 4.751.

 

Segundo o gestor social do CPC Ribeiro de Abreu, Delor da Costa, as atividades contribuem muito para o trabalho de prevenção à criminalidade na região. “As oficinas criam a fidelidade de alguns jovens e são importantes estrategicamente no território, pelas pessoas que circulam, pelo referencial que o oficineiro se torna para os jovens e pela ajuda em promover o acesso deles a outros lugares da cidade. E nós vamos avaliando, acompanhando e fazendo outros encaminhamentos necessários”, detalha.

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