Os temporais das últimas duas semanas, com mais de 50 mortos e milhares de desalojados ou desabrigados, deixaram claro que programas para evitar catástrofes do tipo ganharão maior relevância nos planos de governo dos candidatos às eleições deste ano. Mais do que isso: anteciparam a corrida eleitoral às prefeituras, mesmo que extraoficialmente.

“O tema chuva é recorrente (nos planos de governo dos candidatos). O que vai acontecer é que ele se tornará ainda mais relevante. Pela primeira vez, no caso de BH, (os estragos) saíram das áreas periféricas e chegaram à Centro-Sul”, disse Malco Camargos, doutor em Ciência Política e professor da PUC Minas. Diante da necessidade de respostas rápidas à sociedade, políticos que devem tentar a reeleição, como Alexandre Kalil (PSD), e os que não irão disputar o pleito, mas têm interesse nos resultados das urnas, como o governador Romeu Zema – possível postulante a mais quatro anos no cargo, em 2022 – , deixaram clara a postura de suas gestões no que se refere a tragédias como as ocorridas.

Na última quarta-feira, Zema convocou a imprensa para anunciar a antecipação de parcelas da dívida do Estado aos municípios em situação de emergência que aderiram a um acordo sobre o tema, em 2019. Mais de cem cidades receberão recursos. BH não aderiu, mas terá R$ 200 milhões. Segundo Zema, “diante deste momento tão difícil, o governo vai fazer o que está ao alcance, apesar das dificuldades financeiras”.

Assessores garantem que o governador não faz dessa transferência a BH uma estratégia para cativar eleitores da capital. Mas é inegável o interesse dele em uma vitória do Novo na eleição municipal, este ano. Até porque, se reeleito, Kalil pode representar uma ameaça a um segundo mandato de Zema. Nada impediria que, uma vez reconduzido ao cargo, o prefeito deixasse o posto para concorrer ao governo estadual.

Kalil, por sua vez, tem o tema chuva como desafio na busca por um segundo mandato. Tanto que transferiu por dois dias o gabinete para o Centro Integrado de Operações (COP), espécie de quartel-general das autoridades envolvidas na prevenção e resposta aos desastres. Foi lá, inclusive, que ele garantiu aos belo-horizontinos: “É o maior desastre dessa cidade em 120 anos. Tenham paciência. Vamos reconstruir essa cidade”.

As chuvas pautaram ainda o trabalho na Assembleia. Mesmo em recesso, o presidente da Casa, Agostinho Patrus, e líderes de diferentes blocos se reuniram para definir projetos de lei que amenizem os prejuízos causados pelas chuvas. Um deles prevê isentar donos de veículos danificados pela água da taxa de licenciamento do Detran.  “Esses projetos vão ter apoio dos líderes. Esperamos que passem a valer no máximo em dez dias”, destacou Patrus.

Cuidados com a água geram votos

Além das chuvas, dois outros fenômenos relacionados à natureza deverão ganhar destaques no programa de governo dos candidatos à Prefeitura de Belo Horizonte, na eleição deste ano: o combate à dengue e o risco de racionamento de água. A avaliação é do cientista político Malco Camargos. As recentes chuvas, segundo ele, servem de prato cheio para a proliferação do Aedes aegypti, transmissor da dengue.

O acúmulo de água gerado pelas tempestades proporciona ambiente propício à disseminação da doença. Se o poder público não agir corretamente, a cidade poderia sofrer, assim como boa parte do Estado, uma segunda epidemia seguida da doença. “Se esse controle for bem sucedido, ponto para o prefeito. Do contrário, será explorado pelos adversários”, disse o cientista político.

Em 2019, segundo a Secretaria Municipal de Saúde, foram contabilizados 116.516 casos e 34 mortes por dengue em Belo Horizonte. Mas as estatísticas ainda podem aumentar, pois 956 análises ainda estão pendentes de resultados.

Outro fenômeno ligado às condições climáticas que também pode pautar a eleição é o risco de falta d’água, em razão do estouro da barragem da Vale em Brumadinho, em janeiro do ano passado. A avalanche de rejeitos chegou ao Paraopeba, uma das bacias que abastecem a capital mineira. “O risco (de desabastecimento) pode impactar a eleição”, acrescentou Camargos.

No último trimestre de 2019, a secretária-adjunta de Estado de Planejamento e Gestão, Luíza Barreto, analisou que, se o volume de precipitações não fosse suficiente para melhorar outros rios que ajudam a abastecer a capital, a chance de prejuízo ao abastecimento seria real a partir de março.
Coincidiria com o início do calendário eleitoral oficial, pois março é o mês em que tem início a janela para a troca de partido de vereadores que desejam mudar de sigla. Entretanto, em razão do volume das últimas chuvas, a expectativa é a de que o risco seja descartado.

ELEIÇÕES CHUVA 2020

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