Gringo, de Minas. É assim que o Joshua, de Liverpool, na Inglaterra, passou a ser conhecido nas redes sociais depois que se mudou para Ermida, distrito de Divinópolis, no Centro-Oeste mineiro, há cerca de seis meses. Josh, que nunca nem tinha ouvido falar do Estado, decidiu viver no Brasil após se casar com a divinopolitana Raquel.
A mudança apresentou um mundo novo de experiências, sabores e palavras para o engenheiro Joshua Smythe, de 26 anos, que passou a postar muitas das descobertas na internet. “É difícil fazer dieta aqui”, contou o britânico, que está em processo de autorização de residência no país.
A vinda do inglês também ressignificou a vida da estudante de Direito Raquel Carvalho, de 24 anos. “Me fez dar mais valor às coisas que eu já dava, mas que muitas vezes passavam despercebidas”, disse. “É muito especial ver ele aqui, junto com a minha família, e gostando”, completou.
O perfil no Instagram traz vídeos e fotografias do mundo mineiro. É Raquel quem ensina português para o rapaz, que se diverte tentando reproduzir o jeito de falar do ‘povo da roça’. “Meu favorito é ‘nu’. Tem o ‘nó’. ‘Bão demais’ é incrível. Tem muitas: ‘graças a Deus’, ‘com Deus’, ‘bênça'”.
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Falar da roça, aliás, tornou-se a temática preferida do jovem. Entre fotografias e vídeos de biscoitos, da galinha caipira, dos doces e até da cachaça, há sempre um recadinho em inglês para os amigos e familiares que vivem na terra da Rainha.
“Eles veem as postagens e querem visitar aqui. Eu comecei a postar porque conhecer a cultura de Minas foi uma grande descoberta para mim. Eu fui ficando encantado e eu quis mostrar para eles a comida mineira, a cultura mineira”, disse, conversando numa mistura a lá ‘portuglês’. “My Portuguese é muito ruim”, afirmou, exagerando.
Roça inglesa?
Em um dos vídeos na rede social, o gringo de Minas faz uma provocação aos conterrâneos. Na série de gravações ‘coisas que o Brasil faz melhor que o Reino Unido’, o rapaz fala, em Inglês, sobre a qualidade do café, do queijo da Serra da Canastra e do sol. “Aqui tem sol todo dia”.
O engenheiro também elogia o que ele chama de ‘cultura do sítio’: local onde as famílias se reúnem para fazer churrascos e festas, sempre com o consumo de alimentos frescos. “Na Inglaterra, muito da nossa comida viaja pelo mundo antes de chegar às nossas cozinhas. Nós temos frutas da África e carne da Nova Zelândia”, relatou.
A roça na Inglaterra, ele conta, é menos diversa do ponto de vista de produção agrícola e com formas de cultivo bem diferentes. “São muitos frutos exóticos aqui, quero dizer, para mim é exótico. Vocês têm animais de estimação exóticos, como o tucano [que se alimenta de frutos próximo à casa no sítio]. É o que mais estou gostando. Conhecer as frutas e pássaros daqui”, disse.
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Mas nem tudo é perfeito. Uma das coisas que Smythe não compreende é a tradicional prática camponesa de colocar fogo em lixo ou na própria vegetação para a limpeza e preparo do solo antes do plantio. “Havia muito mais tucanos aqui antes das queimadas”, contou.
Josh não está equivocado. De acordo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a prática pode causar danos ao solo e prejuízos à biodiversidade, à dinâmica dos ecossistemas e à qualidade do ar.
Mudança por amor
Toda a história de Josh e Raquel começou há pouco mais de dois anos, quando o casal se conheceu e começou a namorar no Canadá – país onde ele trabalhava e ela estudava Inglês. Com o retorno da jovem ao Brasil para a finalização do curso de Direito, o rapaz decidiu visitar o país no ano passado. Ficou 4 meses em Belo Horizonte.
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Neste ano, semanas antes do início da pandemia de Covid-19, aconteceu a mudança fixa. “Me mudei depois de me apaixonar por uma mineira”, falou, em português envergonhado. Como a jovem iniciou home office, o casal decidiu ficar temporariamente no sítio da família, em Ermida, a cerca de 120 quilômetros de BH.
“Nos conhecemos, nos gostamos, nos apaixonamos e ela perguntou se eu queria morar em Minas Gerais. Eu pensei muito, pois eu não conhecia nada sobre aqui, mas o amor pela minha esposa me trouxe pra cá. Foi a razão principal”, disse.
“Muita coisa hoje eu sinto mais feliz em ter e viver do que antes, como a própria vida na fazenda, que eu não vinha tanto. A gente se casou aqui e o local ficou ainda mais especial”, contou Raquel.
As postagens de Josh são divertidas e encantadoras. Em tempos difíceis de pandemia e de recessão econômica, a mensagem do britânico é de otimismo: o que realmente importa na vida está nas coisas simples.
É como diz a canção de John Ulhoa, da mineiríssima banda Pato Fu: “vai diminuindo a cidade, vai aumentando a simpatia. Quanto menor a casinha, ai, mais sincero o bom dia”.