“Fisiologicamente, as equipes deveriam voltar aos trabalhos juntas. Esse é um ponto-chave. Temos que considerar que, para a neutralidade da competição, o retorno das equipes aos treinos deveria ser ao mesmo tempo. Fico vendo uma equipe voltando e outra não, e lá na frente isso pode promover uma injustiça muito grande, pode mudar completamente as características de uma competição, os resultados. Influencia técnica, tática e fisicamente”. Esta é a opinião de Renato Alvarenga, fisiologista e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Sua opinião vai de encontro ao que o futebol mineiro começa a viver em meio à pandemia pelo novo coronavírus. Os clubes de Belo Horizonte tentam voltar aos treinamentos, com o Atlético fazendo o movimento mais significativo, pois fez nesta segunda-feira (11) a desinfecção da Cidade do Galo, em Vespasiano, e testes em 60 profissionais. O América, que tem o seu CT em Contagem, busca autorização da prefeitura da cidade, assim como o Cruzeiro, único que treina na capital.

Quando o futebol voltar, e ainda não se sabe quando isso acontecerá, a primeira rodada do Campeonato Mineiro a ser disputada terá o clássico América x Atlético, confronto decisivo para o primeiro lugar da fase classificatória. Com o Galo largando na frente no retorno aos treinamentos, carregará todas as vantagens explicadas pelo fisiologista da UFRJ.

Mas isso acontecerá em nível nacional. Flamengo, Palmeiras e Grêmio são considerados os três grandes times do Brasil neste momento. O tricolor gaúcho treina desde o início da semana passada, pois Porto Alegre não vive a situação caótica registrada no Rio de Janeiro e São Paulo, por exemplo.

“Deveria haver uma padronização dessa data de retorno. Se o atleta volta mais cedo, ele terá melhor desempenho técnico. Imagine uma equipe voltando depois de dois meses e outra voltando agora, injustiça total. Eu acredito que não tem como igualar essa questão física em determinado momento da temporada em relação aos clubes que começaram antes para os que começaram os treinos depois. Porque é diferente da pré-temporada, quando você usa o estadual para moldar essas questões físicas, técnicas, táticas. Daqui a pouco começa o Campeonato Brasileiro”, afirma Renato Alvarenga.

FMF

A pré-temporada falada por Alvarenga faz parte do calendário da CBF. Apesar de poder acontecer o que o fisiologista chama de “injustiça esportiva” em sua principal competição, a FMF garante que não pode fazer nada. Por nota, a entidade respondeu à reportagem: “Como cada clube tem uma realidade contratual, além de existirem os contextos de cada cidade, a FMF não consegue interferir no planejamento”.

Para o fisiologista da UFRJ, por mais que a Fifa tenha passado a permitir cinco substituições no jogo, o que ajudará muito do ponto de vista físico, tecnicamente o efeito não será o mesmo, pela qualidade diferente entre jogadores. Além disso, ele destaca que a parada, que já chega aos 60 dias, impede que 15 dias de pré-temporada, como acontece no início do ano, seja suficiente para se ter o retorno dos jogos.

“Duas semanas é pouco tempo para retomar o alto nível em segurança contra lesões. Os jogadores estão parados de uma forma que nunca ficaram antes, quase dois meses e completamente. Para voltar agora em um nível de segurança, acredito serem necessárias pelo menos seis semanas de trabalhos. Quatro semanas é um limite aceitável”, afirma o fisiologista.

A volta do futebol brasileiro carrega, sem dúvida, um duplo desafio, pois não se sabe ainda quando será o pico da pandemia no país e as competições, pela falta de coordenação da CBF e das federações, começarão com equipes em estágios físicos e técnicos diferentes.

Hoje em Dia

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *